Samba de Roda do Recôncavo Baiano mantém vivo patrimônio da humanidade

Foto: Clara Angeleas

A dança, a música e a poesia contam a história do Brasil colonial. As primeiras manifestações do Samba de Roda do Recôncavo Baiano, no estado da Bahia, são datadas do século dezessete e surgem na região pelas vozes de africanos escravizados. No círculo, os pés descalços de homens e mulheres acompanham o ritmo espontâneo de instrumentos como o cavaquinho, o pandeiro e o violão. Quem participa bate palmas para reforçar os versos das cantorias.

Herança cultural afro-brasileira, o samba de roda é transmitido de geração a geração. É o caso do grupo Samba de Roda Raízes de Acupe, no município de Santo Amaro, em atividade há quase 15 anos. A coordenadora do grupo, Joanice Santos, destaca a importância histórica da roda de samba para a comunidade local. “Os escravos na época da escravidão sofriam muito nos trabalhos. Durante a noite, eles se reuniam para contar o sofrimento do dia a dia. No início e no final, eles choravam, se lamentavam e virava em samba”, explica Santos. “Quando caímos no samba, a gente esquece de tudo. A gente só quer saber de sambar. É uma cultura rica. E que não podemos deixar morrer”, completa.

O Samba de Roda do Recôncavo Baiano foi registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como bem imaterial brasileiro em 2004. Um ano depois, foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

A coordenadora de Registro do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Marina Lacerda, ressalta a relevância deste patrimônio para o País. “O Samba de Roda do Recôncavo é música, é poesia, é forma de expressão. Das mais importantes expressões brasileiras que está presente no Recôncavo Baiano, mas também em toda a Bahia. A forma que o Iphan tem de preservar é por meio do registro. E esse bem foi reconhecido em função da sua importância e da sua representatividade da identidade nacional”, destaca.

Aos 69 anos, o baiano Agnaldo de Souza Vieira não dispensa os convites para as rodas de samba do grupo Raízes de Acupe. A tradição de sambar veio do berço – para ele, sambar é cultivar o amor pelos antepassados. “Desde que eu nasci, eu já encontrei o samba. Eram os meus avós, meus antepassados e eu sempre gostando porque filho de peixe, peixinho é. Esse é o dom que Deus me deu. É esse que eu vou cuidar até morrer. E tenho amor ao samba”, declara.

Historiadores da música popular brasileira consideram o samba de roda baiano a principal fonte de referências do samba carioca, que se tornou, no século 20, um dos grandes símbolos de brasilidade.

Samba de Roda do Recôncavo Baiano

Seus primeiros registros, com esse nome e com muitas características que ainda hoje o identificam, datam dos anos 1860. Atualmente, reúne as tradições culturais transmitidas por africanos escravizados e seus descendentes, que incluem o culto aos orixás e caboclos, o jogo da capoeira e a chamada comida de azeite. A herança negro-africana no samba de roda se mesclou de maneira singular a traços culturais trazidos pelos portugueses (principalmente viola e pandeiro) e à própria língua portuguesa nos elementos de suas formas poéticas. Pode ser realizado em associação com o calendário festivo – caso das festas da Boa Morte, em Cachoeira, em agosto; de São Cosme e Damião, em setembro; e de sambas ao final de rituais para caboclos em terreiros de candomblé. Mas ele pode também ser realizado em qualquer momento, como uma diversão coletiva, pelo prazer de sambar.

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Secretaria Especial da Cultura


Fonte: Cultura