Há exatos 5 anos, U2 “forçava” usuários do iPhone a ouvir seu novo disco

A internet e suas infinitas possibilidades permitiram que víssemos o mundo de outras maneiras. Se estávamos acostumados com algo, as novas ferramentas chegaram para mostrar que tudo é passível de mudanças. E isso vale (e muito) para a indústria cultural.

A Netflix ganhava cada vez mais fama enquanto popularizava o termo streaming. Os livros digitais se tornavam mais viáveis e interessantes graças à causa ambiental. A música experimentava também novas táticas de reformulação, e a Apple mantinha papel influente graças à revolução proporcionada pelos iPods e pelo iTunes no consumo musical. Ela continua arriscando até hoje, mas nem tudo que fizeram deu tão certo assim.

Na época, em sua trajetória de smartphones, a empresa havia anunciado o iPhone 6. Foi também quando se deu o primeiro anúncio da linha Apple Watch. No entanto, o fato mais marcante do ano para a empresa foi sua polêmica parceria com a banda irlandesa U2. O resultado foi ‘presentear’ mais de 500 milhões de usuários com o recém-lançado álbum Songs Of Innocence.

Uma ambiciosa tentativa de se manter relevante
Bono e Steve Jobs (co-fundador da Apple) eram amigos próximos, mas a relação entre a banda e a empresa de tecnologias nunca foi surpresa. O vocalista foi um dos primeiros grandes músicos a apoiar a ideia da loja virtual iTunes, mesmo sendo um terreno incerto à primeira vista. Bono ainda foi estrela de um comercial de uma das versões do iPod, enquanto cantava o hit ‘Vertigo’.

Após os mornos resultados comerciais do antecessor No Line At The Horizon (apesar da incrível turnê 360º), a banda queria uma forma de se manter musicalmente relevante no cenário. Os pouco mais de cinco anos de espera (o maior período sem lançamentos na história do grupo) contribuíram para que o U2 trabalhassem com o Danger Mouse e com um time extra de produtores, formado por Paul Epworth, Ryan Tedder, Decian Gaffney e Flood.

O épico lançamento foi feio em parceria com a Apple, em uma estratégia explicada apenas no dia 9 de Setembro de 2014, após meses de especulações. Em um evento da própria empresa, a banda tocou o então novo single ‘The Miracle (of Joey Ramone)‘. Logo depois, os integrantes foram convocados pelo CEO Tim Cook para fazerem o anúncio.

O lançamento digital do álbum foi feito gratuitamente, sendo automaticamente adicionado ao catálogo de todos os usuários do iTunes. Na ocasião, Bono disse que era um ‘presente (da Apple) para todos os seus clientes’. Cook mencionou o disco como ‘o maior lançamento de álbum de todos os tempos’.

A exclusividade se manteve até o lançamento da versão física do álbum em Outubro. Até lá, diversas discussões se estenderam este marcante episódio do mundo da música.
Mas e aí? Deu certo?

Há controvérsias. De fato, o lançamento inesperado fez com que cerca de 33 milhões de pessoas tivessem a experiência de ouvir o disco logo na primeira semana. No entanto, o ‘presente’ foi mal visto por grande parte dos ouvintes.

Muitos viram o súbito download das músicas como invasão de privacidade. Aliás, apesar da grande base de fãs do grupo, não são todos os 500 milhões de usuários da Apple que planejavam ter as novas faixas em seus celulares. Isso conversa com um artigo publicado pela WIRED na época, que comparou Songs of Innocence a uma espécie de spam. Por sinal, vale também dizer que não foi o melhor álbum da banda.

Alguns profissionais da indústria viram nessa estratégia uma espécie de desvalorização da música enquanto produto. Afinal de contas, qual é a vantagem de disponibilizar músicas gratuitamente para milhões? Em entrevistas feitas na época, Bono deixou claro que a banda foi devidamente paga pela empresa.
Não existe um artista que agrade a todos
Se existe uma lição para a Apple e para os integrantes do U2, com essa história toda, é a de que não existe um artista que agrade a todos.

As estratégias foram válidas, é claro. Aliás, como dissemos no início do texto, as possibilidades proporcionadas pelas novas tecnologias permitem que arrisquemos cada vez mais. Na época, a Apple escolheu o U2 por acreditar que a banda fosse a utopia do grupo capaz de ‘unir todas as tribos’, mas se viu errada com a reação negativa. O mesmo aconteceria se a empresa investisse em artistas Beyoncé, Rihanna ou Madonna.

A década de 2010 tem visto, especialmente graças ao crescimento do streaming (onde já temos Spotify e afins na jogada), que é cada vez menos comum as pessoas se contentarem com conteúdos que são jogados para elas. A liberdade do ambiente virtual tem nos ensinado que podemos moldar nossos próprios interesses. Uma pessoa pode ouvir o novo disco de tal banda e decidir se encaixa em seu gosto musical ou não, sem precisar que ninguém ‘jogue’ a música gratuitamente.

E você? Era usuário da Apple há 5 anos? Gostou da ação? Acha que essa é uma estratégia válida? Por sinal, gostou de Songs of Innocence? Conte para nós nos comentários!


Fonte: r7 Music